Entenda o La Niña, fenômeno que atingirá o Brasil em setembro.

No mês de setembro, o fenômeno La Niña poderá se manifestar em diversas regiões do Brasil. Este evento climático, contrário ao El Niño, provoca o resfriamento das águas superficiais do Oceano Pacífico Equatorial e impacta significativamente as temperaturas, precipitações e períodos de seca em várias partes do país.

Os meteorologistas utilizam modelos climáticos, que analisam dados atmosféricos, para prever a ocorrência do La Niña ao longo dos meses de setembro, outubro e novembro. A previsão do impacto, contudo, pode ser adiada devido à inércia na alteração das características do mar.

“O impacto pode ocorrer um pouco após setembro. Primeiro há uma mudança na temperatura da superfície do mar, o que altera a circulação atmosférica, trazendo o impacto para o Brasil,” explica Angel Domínguez Chovert, meteorologista do Centro de Excelência em Estudos, Monitoramento e Previsões Ambientais (Cempa), da Universidade Federal de Goiás (UFG).

Francisco de Assis Diniz, meteorologista e consultor climático, detalha os efeitos típicos do La Niña: “Ele provoca excesso de chuva nas regiões Norte e Nordeste, entre o Centro e o Norte do País, e reduz as chuvas na região Sul, Argentina e Paraguai. Durante o inverno, facilita o avanço de massas de ar frio, causando ondas de frio.”

Os efeitos do La Niña

Embora esses sejam os impactos mais comuns, o La Niña não segue um padrão fixo. Chovert, que também atua no Centro de Excelência em Agricultura Exponencial (Ceagre), prevê um La Niña menos intenso este ano comparado a eventos anteriores.

O fenômeno esteve presente em 2020, 2021, 2022 e parte de 2023. “No Sudeste, espera-se temperaturas um pouco abaixo da média. Mesmo sendo um período quente no Brasil, prevê-se temperaturas levemente inferiores à média no Centro-Oeste e Sudeste, aumento de chuvas no Norte e Nordeste, e precipitações dentro do esperado no Sul,” afirma Chovert.

Atualmente, medições indicam um resfriamento de 0,3°C nas águas do Oceano Pacífico Equatorial em relação à média climatológica (1991-2020). Para caracterizar o La Niña, a redução deve ser de pelo menos 0,5°C, enquanto para o El Niño, a elevação deve ser de 0,5°C ou mais.

Situação climática emergencial

Como a variação não atingiu os parâmetros que definem La Niña ou El Niño, estamos em um período de neutralidade. É esperado um La Niña moderado para o final deste ano e início do próximo. Ilhas de calor nos oceanos, em geral, impedem a diminuição das temperaturas no Pacífico Equatorial, o que pode estar relacionado ao aquecimento global.

“Os padrões que usávamos como referência para prever esses eventos não são mais tão precisos,” alerta o meteorologista do Cempa. Diniz acrescenta que as previsões iniciais indicavam a presença do fenômeno no segundo trimestre deste ano, mas isso não ocorreu devido às altas temperaturas oceânicas que impediram a propagação do La Niña.

A confirmação do La Niña requer tempo, pois os pesquisadores analisam períodos mais longos. Além disso, os fenômenos no Pacífico não têm efeitos imediatos na superfície terrestre; os impactos são percebidos através de interações atmosféricas.

Chovert destaca a duração do La Niña: “No primeiro trimestre de 2025, o La Niña começará a enfraquecer, e possivelmente no fim do primeiro trimestre, retornaremos a um estado de neutralidade.”