Google faz mudança no algoritmo que pode fechar pequenos negócios online. Entenda

As alterações introduzidas pelo Google em seu algoritmo de busca e filtros de spam, no início deste ano, tinham como objetivo eliminar conteúdos de baixa qualidade. No entanto, os efeitos foram devastadores para diversos sites de vendas online.

Pequenas empresas foram forçadas a demitir funcionários e até fechar as portas após a grande atualização do Google, em março e abril, que resultou em quedas drásticas no tráfego de seus sites.

Gisele Navarro, uma argentina de 37 anos, é uma das afetadas pela ação do Google. Ela fundou, junto com o marido, o site HouseFresh, especializado em avaliações de purificadores de ar, desde 2020. O site não tinha anúncios ou promoções de produtos, e suas críticas eram sinceras: se um produto fosse ruim, os revisores do site diziam isso. A receita do negócio vinha das comissões pelos cliques dos clientes quando acessavam a Amazon.

Entretanto, a atualização do Google mudou esse cenário. "Descobrimos que deixamos de estar em primeiro lugar - porque éramos um dos poucos que realmente faziam críticas - e nem sequer aparecíamos", disse Gisele Navarro à AFP. O HouseFresh costumava receber cerca de 4.000 referências de pesquisas do Google diariamente, mas esse número caiu para cerca de 200.

Grande confusão

A queda no tráfego foi tão severa que Navarro foi aconselhada a fechar o site e começar do zero com um novo domínio. A frustração de Navarro e de muitos outros proprietários de sites decorre da falta de transparência sobre como o Google classifica os resultados. A empresa americana é conhecida pelo sigilo em torno de seu algoritmo, o que deu origem ao setor de SEO (otimização para motores de busca) que tenta manipular a fórmula para obter mais cliques.

A última atualização deixou os especialistas em SEO em estado de confusão, tentando entender por que alguns sites se beneficiaram com as mudanças e outros foram prejudicados. O Google afirmou à AFP que sua atualização foi projetada para fornecer aos usuários "menos resultados que pareçam ter sido feitos para mecanismos de busca".

"As únicas mudanças que estamos lançando são aquelas que nossos experimentos mostraram que melhorarão significativamente os resultados para as pessoas. E achamos que essas atualizações foram úteis", disse o Google. No entanto, Navarro mostrou em um post de blog em maio que as pessoas que procuravam análises de produtos estavam encontrando mais anúncios e conteúdos aparentemente gerados por inteligência artificial ou maximizados através de SEO.

Aprender com os outros

Os usuários que visitam sites como Reddit e Quora também se beneficiaram com a atualização do Google. A empresa defendeu essa abordagem dizendo que "muitas vezes as pessoas querem aprender com as experiências dos outros". "Realizamos testes rigorosos para garantir que os resultados sejam úteis e de alta qualidade", acrescentou.

No entanto, a equipe de um site de notícias europeu disse que seus artigos agora eram sistematicamente superados por conteúdos irrelevantes do Reddit. O editor do site, que pediu anonimato devido à natureza delicada do tema, afirmou que o tráfego redirecionado das buscas do Google caiu de 20% a 30% desde a atualização, resultando em cortes inevitáveis.

"Em um mercado já difícil, este é um problema sério para editoras independentes como nós", disse ele. Empresários entrevistados pela AFP disseram que estão procurando formas de não depender tanto das buscas do Google, seja escrevendo newsletters, fazendo podcasts ou tentando atrair público por outros meios.

O chefe de um site de notícias especializado em finanças e tecnologia, que falou à AFP sob condição de anonimato por medo de repercussões negativas, disse que todos os seus concorrentes usam empresas de SEO "para comprar tráfego". "Não fazemos isso, mas está cada vez mais difícil manter essa posição, já que esses sites não caíram tanto quanto nós após a atualização do Google", acrescentou.

Navarro, que teve que reduzir drasticamente sua equipe, decidiu reorientar a estratégia de negócios para análises em vídeo e newsletters para tentar reconectar-se com seu público. Apesar da experiência traumática com o Google, ela ainda confia na web. As mensagens de apoio são numerosas e as referências de mecanismos de busca alternativos como o DuckDuckGo aumentaram. "Todo o conhecimento da humanidade está na web e isso é importante", disse. "Não quero desistir só porque o Google falhou conosco."

Algoritmo do Google

O algoritmo do Google é um sistema complexo que utiliza uma combinação de fatores para classificar páginas da web nos resultados de pesquisa. Esses fatores incluem a relevância do conteúdo, a qualidade das páginas, a autoridade do site, a experiência do usuário, e muitos outros elementos técnicos como velocidade de carregamento e compatibilidade com dispositivos móveis. O objetivo principal é fornecer aos usuários os resultados mais úteis e relevantes para suas consultas de busca.

A cada atualização do algoritmo, o Google visa melhorar a precisão dos resultados de busca, muitas vezes ajustando a maneira como diferentes fatores são ponderados. Essas mudanças podem ser grandes, como as atualizações "Panda" e "Penguin", que visaram eliminar conteúdos de baixa qualidade e práticas de SEO desonestas, ou menores, que ocorrem regularmente para ajustar o desempenho geral. Embora essas atualizações melhorem a experiência do usuário, elas podem causar flutuações significativas no tráfego de sites, especialmente para pequenas empresas que dependem da visibilidade nos resultados de pesquisa.

Essas atualizações frequentemente beneficiam sites que investem em conteúdo original, útil e bem-escrito, enquanto penalizam aqueles que dependem de práticas de SEO enganosas ou que possuem conteúdos duplicados. No entanto, a falta de transparência e clareza sobre os critérios exatos do algoritmo pode deixar muitos empresários inseguros sobre como adaptar suas estratégias. Essa incerteza leva à frustração, especialmente quando mudanças inesperadas resultam em quedas abruptas de tráfego e receita.

Pequenos negócios online

Os pequenos negócios online no Brasil representam uma parte significativa da economia digital e são fundamentais para a geração de empregos e inovação. Esses negócios variam desde pequenas lojas de e-commerce a empresas de serviços especializados, todos contribuindo de forma significativa para o PIB do país. Estima-se que o setor de e-commerce no Brasil tenha gerado um faturamento de R$ 161 bilhões em 2021, com um crescimento contínuo nos anos seguintes.

Essas pequenas empresas empregam milhares de pessoas e oferecem oportunidades econômicas importantes, especialmente em áreas menos favorecidas. Elas são uma fonte vital de renda para muitos empreendedores e seus funcionários, ajudando a reduzir o desemprego e fomentar o desenvolvimento econômico local. Além disso, o setor de pequenos negócios online é dinâmico e resiliente, adaptando-se rapidamente às mudanças do mercado e às novas tecnologias.

No entanto, os desafios são muitos. A competitividade com grandes empresas, a necessidade constante de atualização tecnológica e a dependência de plataformas de busca como o Google para atrair clientes são alguns dos obstáculos que esses negócios enfrentam. A capacidade de inovar e se adaptar é crucial para o sucesso contínuo. A longo prazo, espera-se que o setor continue a crescer, impulsionado pelo aumento do acesso à internet, a melhoria das infraestruturas de pagamento e logística, e a crescente confiança dos consumidores nas compras online.