É como o cantor Jimmy Cliff dizia: "O mundo está girando ou apenas de ponta cabeça?"

Cláudio, um jovem caucasiano que mora na periferia, mantém o sustento de sua família vendendo doces no semáforo. O jovem, muito estudioso e educado, tem o desejo de se formar em uma faculdade, mas não possui condições financeiras para tal.

Seu vizinho Ronaldo, um jovem mulato de uma família de classe média, nunca foi adepto aos estudos, mas, pelo tom de sua tez, recebe uma cota especial na faculdade, caso um dia deseje estudar. 

Cláudio não compreende e nem concorda com isto, afinal é mais pobre que seu vizinho, mas nasceu “branco” e por isto é considerado um privilegiado, mesmo levando uma vida dura, bastante difícil, sem receber nenhum privilégio, como o que Ronaldo recebe para estudar, caso um dia deseje. 

Por causa desta indignação, Cláudio é chamado de racista.

O filho de Mércia roubou e matou um pai de família. O homicida foi capturado pela polícia. Condenado pela justiça, foi preso e acabou morrendo numa briga dentro da cadeia. Mércia, sua mãe, recebeu indenização do Estado. 

Paula, de apenas 4 anos de idade, perdeu o pai assassinado pelo filho de Mércia num assalto. Paula e a mãe passam dificuldades financeiras e não recebem o auxílio do Estado e nem de mais ninguém. Se a mãe da pequena Paula reclamar, ela é taxada de desumana, já que Mércia, para o Estado, é apenas uma pobre “vítima” do sistema.

O rapper com discurso vago, e muito pouco talento, dispara um arsenal de frases clichês de extrema vitimização, no intuito de ilustrar uma falsa narrativa contra o capitalismo, seu braço direito que ele finge tratar como inimigo, mas que é apenas uma ferramenta do jogo que criou para ganhar ainda mais dinheiro com seu patético e mentiroso discurso. 

Ele também vende em sua loja virtual produtos com lucros exorbitantes, mas se você o achar um imbecil hipócrita e capitalista, você se torna um fascista para os fãs do sujeito.

Valéria é professora de canto e cometeu o “crime” de fazer uma crítica construtiva sobre o trabalho de um cantor transexual. Valéria não julgou em nenhum momento a opção sexual do rapaz, apenas comentou, como musicista que é, que ele não era um bom cantor e seria interessante que estudasse canto.

Pobre Valéria que cometeu o “erro” de observar que o rapaz é desafinado e canta fora do tom. Foi cancelada por homofobia e perdeu todos seus alunos. 

Um famoso portal virtual de notícias polêmicas, e diversas contradições, promoveu o sexo anal entre heterossexuais, porém aqueles que por ventura não tiveram nenhum interesse no assunto, foram catalogados pelo portal como machistas preconceituosos.  

Se  você critica o governante A pelas diversas falhas em sua gestão, favores familiares e galhofas que reproduz, você se torna automaticamente um “comunista”. Se pede a condenação do governante B, criminoso que num esquema de corrupção destroçou uma nação inteira, você se torna parte do que chamam de “gado”.  Agora se você, munido de bom senso, resolver criticar ambos, recebe a alcunha de “isentão”.

Se um político é pego em flagrante com dezenas de milhares de reais desviados de verbas públicas da saúde, onde todas as cédulas foram escondidas dentro da própria cueca do indivíduo, ou socadas em algum orifício de seu próprio corpo, misteriosamente o sujeito não vai preso, continua parlamentar e pode até presidir uma comissão de ética. Por outro lado, se uma empregada doméstica, desempregada, é pega em flagrante afanando um pacote de leite em pó para alimentar o filho faminto, ela é detida, humilhada, julgada e imediatamente presa. 

Se és munido de inteligência e possui uma certa perspicácia para não cair em fake news, você é rotulado como desinformado. Mas se resolve pesquisar e investigar a fundo questões de interesse público e, mediante infindáveis provas, publicar o resultado sobre o que apurou, comprovando o óbvio de que "memes" não são notícias, você provavelmente será acusado de espalhar notícias falsas.

Para tudo neste país há uma adjetivação. A liberdade de expressão defendida pela tal democracia, praticamente aqui inexiste. 

Tais “defensores” preferem apoiar ditadores de países vizinhos ou de repúblicas orientais, afinal no estrangeiro a ditadura é liberdade enquanto aqui, liberdade é ditadura. Deu para entender?

Será que o recente recuo do mar é uma espécie de receio natural do oceano em se misturar com nossos 75% de água que parecem viver em eterna tormenta? 

Estamos sujeitos a maremotos de falsas acusações e tsunamis de julgamentos insólitos o tempo todo, afinal continua ainda mais fácil por aqui jogar a culpa no outro do que  assumir as próprias falhas. 

O que nos falta hoje não é posição partidária, que já existe em demasia. O que nos falta é uma educação básica para compreender que se alguém não pensa como você, necessariamente não se torna seu inimigo. 

O cantor jamaicano Jimmy Cliff, em sua canção “Word Upside Down”, questiona se o mundo está mesmo girando ou se está apenas de ponta cabeça, afinal a inversão de valores em que estamos vivendo nos faz duvidar sobre a sanidade de nossa espécie, a qual chamamos de ser humano.

Será que no meio de tanto ódio e intolerância, ainda resta uma certa dose de sabedoria para que coloquemos a gentileza e a sensatez acima de todo este proselitismo que assola a (des)humanidade?

Sejamos menos partidários e mais humanos. Pode ser um bom começo para que o mundo volte ao prumo, que tal?

Texto extraído do livro "A TOCA DO LOBO - GUIA PARA NÃO ENLOUQUECER NUMA PANDEMIA".

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