Quase 27 anos depois, assassinato de Gucci está rodeado de mistério até em filme que o homenageia

"House of Gucci" é um filme inspirado no império familiar por trás da famosa marca italiana Gucci.

Dirigido pelo veterano Ridley Scott que, aos 83 anos, coleciona trabalhos emblemáticos como "Blade Runner", "Alien", "Gladiador", "Perdido em Marte", "Thelma e Louise", entre tantos outros. O longa foi livremente baseado no livro "Casa Gucci: Uma história de glamour, ganância, loucura e morte", de Sara Gay Forden.

Com um elenco principal formado por premiados atores, o filme retrata o assassinato de Maurizio Gucci, herdeiro e um dos grandes nomes por trás do sucesso da marca.

O personagem, à princípio, foi escrito para Christian Bale, mas acabou sendo interpretado por Adam Driver que, apesar de ser um excelente ator, não teve aqui o seu melhor trabalho no cinema.

O papel de sua ex-esposa e mandante de seu assassinato, Patrizia Reggiani, foi entregue a Lady Gaga, após "disputa" com Angelina Jolie, Anne Hathaway, Marion Cotillard, Penélope Cruz e Margot Robbie; faturando a mais que merecida oportunidade, apresentando aqui um trabalho excepcional que, provavelmente, vai lhe garantir mais uma indicação ao Oscar e, quem sabe desta vez levar, merecidamente, o careca dourado pra casa.

A trajetória de sua ambiciosa personagem de origem humilde, que se casa com um Gucci, poderia tranquilamente ser comparada com a de Médeia ou Lady Macbeth, pois também desencadeia em uma espiral de traição, ódio, ganância, decadência, vingança e, por fim, um assassinato.

O sempre elegante e preciso Jeremy Irons é Rodolfo Gucci, um dos filhos de Guccio Gucci, o fundador da famosa marca que leva seu sobrenome, iniciada em 1906 como uma selaria com alguns itens para a cidade, passando então a se concentrar em artigos de couro artesanal em 1921.

Mas, foi Aldo Gucci, seu filho mais velho, quem transformou a marca no fenômeno mundial do mundo da moda. No filme, o carismático personagem interpretado por Al Pacino, que dispensa qualquer comentário, se vê traído pelo sobrinho Maurizio, num conflito familiar aos moldes shakesperianos.

O filho de Aldo, Paolo Gucci, talvez, numa das maiores injustiças do roteiro, é retratado como um bufão desprovido de talento algum, numa exagerada caricatura feita, ao que parece, mais para Jared Leto ser indicado a premiações do que realmente retratar a figura real. O ator está ótimo, mas sua atuação em nada condiz com a realidade, protestam os herdeiros.

Mas, tirando uma falha aqui, uma invenção boba ali e muitos exageros, o filme é muito bom, entretem e faz o espectador refletir e perceber o que muitas vezes há realmente por trás de todo glamour.

É quase que uma metáfora à própria marca, tão valorizada muito mais pela aparência, por ser uma grife esnobe, do que pelo seu real valor.

A cúmplice de Patrizia no crime, a vidente Pina Auriemma é vivida por Salma Hayek que, curiosamente é casada com François-Henri Pinault, fundador e CEO da multinacional francesa Kering, hoje a proprietária da marca Gucci, que por ironia do destino, não possui mais nenhum membro da família dentro do quadro de diretoria e controle da marca.

A vida continua sendo feita de som e fúria e, em se tratando da família Gucci, provavelmente até Ricardo III ficaria tão assustado que trocaria, muito antes do conflito, o seu reino por um cavalo.

Texto de Maurício Nunes (Facebook: "A Toca do Lobo" // Instagram: "@atocadolobomau")

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